Deus Homem

“Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito.” Fernando Pessoa

Como se nós fossemos mármore a ser esculpido, assim vivemos no mundo contemporâneo, onde a busca incessante pela perfeição, de caráter soberbo, nos parece tangível. Ser humano não basta, é necessário ser divino. Ironicamente, a mídia que nos traz conceitos tão árduos de como devemos ser, também nos traz ideias divergentes, que defendem uma valorização interna. E então, nesse turbilhão confuso, perdemos o foco sobre o que realmente valorizar.

Já na Grécia antiga percebemos uma enorme preocupação com formas bem apresentáveis. Os gregos, a partir do período arcaico, já produziam em mármore belas esculturas representando a corporificação de um ideal de beleza, que pertencia exclusivamente aos seus deuses. Já no Renascentismo, aproximadamente dois mil anos depois, após toda a turbulência da Idade Média, o humano passou por uma fase antropocêntrica, que ainda perdura, na qual formas, baseadas nas gregas, tentam atingir a máxima da perfeição. Porém, dessa vez as esculturas não deveriam representar deuses, e sim os humanos.

O antropocentrismo narcísico, tão valorizado nos dias atuais, nos leva a extremos, como à bulimia e a anorexia, a restrições e a uma sociedade homogeneizada, onde todos se baseiam nos mesmos ideias estéticos, despendendo tempo, dinheiro, e até mesmo, personalidade própria para alcança-los. Para entender a gravidade do problema basta olhar ao redor, o número de livrarias é desproporcional ao número de academias, por exemplo. As pessoas parecem valorizar mais seu corpo do que sua essência. Não que academias devam ser desprezadas, mas beleza sem sabedoria é manca.

Estamos vivendo naquela ideia de “Deus criou o homem à sua imagem e semelhança”, então devemos ser perfeitos como Ele. Mas qual é realmente a forma de Deus? Não seria Deus Amor? Afinal, onde está o amor próprio no ser que restringe a felicidade, o direito de ser pleno, de se encontrar como si mesmo, naqueles que abrem mão de tudo para se sentirem condizentes com a mídia?A perfeição está na essência, tudo o que vier de externo será imperfeito, nosso ego, buscador da perfeição estética, será um eternamente frustado.

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