O Julgamento do Jogador

“Pegue a bola, rapaz! Pelo menos uma vez, parece que tem medo dela!”

“Não queremos perder mais um set por causa de você, então fique de olho no jogo.”

“Nem sei porque o colocaram no time.” Sussurrava outro, julgando que eu não ouviria. No entanto, eu ouvia. E aquelas palavras todas me atingiam, como facas, espetando todo meu orgulhoso ego. Mentalmente, me fazia vítima: “Há os que nasceram para a leitura, os que nasceram para serem esportistas, e os que nasceram para morrer; me enquadro no último caso.”

Mentalmente, criei um julgamento em que eu era o único réu, e o juiz tão severo quanto um militar em guerra. Nesse julgamento meu advogado de defesa era a piedade. “Eu mereço viver, por favor, eu mereço viver, essa sentença de morte é tão impiedosa. Estou em completo abandono, ajude-me.” Implorava eu ao advogado para que me defendesse. “Tentarei, tentarei; mas por alguns momentos penso que nem merece tal compaixão, por vezes penso que você não deve ganhar essa ação.” 

Tão severamente me condenava. Ocorria-me, no âmago de meus pensamentos, em sentido oposto, que tudo aquilo não passava de um jogo. E eu, deixando que minha mente jogasse em meu lugar, deixaria de jogar, de estar presente. Logo fui adentrando em meu processo mental, e indo além desse julgamento poderia desvendar o que veio a dar causa a ele. 

“Vamos. Vamos jogar melhor agora.” E a bola já estava na quadra novamente.

Coloquei-me mais atento. Menti a mim mesmo que agora seria bom. E toda a meditação que me impunha a fazer, com sentido de me sentir mais aliviado, agora surtiria efeito. Já estava farto de condenações, e se jogasse bem saberia que, então, uma pequena parte de mim se acharia mais realizada. 

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